O acesso como um estímulo educacional

18 \18\-03:00 abril \18\-03:00 2010

Escrito por Priscila Armani para avaliação no curso Cidadania e Redes Digitais

No Brasil, a Internet ainda é para poucos. De acordo com dados do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação, em 2009 apenas 27% dos domicílios brasileiros em área urbana no país tinham acesso à internet em suas casas.  Ainda assim, não deixa de ser animador outro dado dessa mesma pesquisa: no ano passado, as lan houses perderam o posto de  principal ponto de acesso à internet no Brasil. As conexões domésticas corresponderam a 48% dos acessos nacionais no ano  passado, contra 45% das feitas em lan houses. Em 2007 e 2008, esses estabelecimentos eram o ponto de acesso mais popular do país.

Segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil, organização que está por trás desse levantamento de dados, o aumento do acesso residencial tem relação tanto com o aumento na compra de computadores quanto com o crescimento no número de conexões de banda larga em 2009. Ambas as categorias experimentaram as maiores taxas de crescimento desde 2005. E isso nos leva a uma reflexão  interessante: as pessoas estão interessadas em levar os computadores para suas casas e, mais do que isso, em garantir seu  contato com a World Wide Web. Afinal, dos domicílios que tem internet no pais, 66% são através de banda larga.

Agora, esse contato está se dando de maneira mais ampla do que boa parte das pessoas imagina, indo além da interação usuário-máquina. Apesar de muita gente ainda não ter computador ou e-mail, sempre há algum conhecido que tem e que poderá buscar para você a informação que precisa ou enviar a “correspondência” para o contato que deseja. Olhar resultado de  vestibular, fazer inscrições para concursos públicos, se cadastrar em programas governamentais, todas essas demandas estão  sendo feitas on line, gerando a constante necessidade de contato, direto ou não, com um computador e com a internet.

A própria mídia também está se encarregando de criar essa necessidade, com diversos jornais televisivos e veículos impressos oferecendo conteúdo exclusivo on line e criando canais de comunicação direto com o público, muitas vezes desejados por boa parte das pessoas, que querem conversar com o profissional de imprensa a respeito do conteúdo que ele produz, seja para pegar o telefone de um estabelecimento onde o jornalista esteve fazendo matéria ou até mesmo para fazer algum tipo de denúncia.

Quanto ao usuário, começou a ter contato com o computador e não parou mais. Se tornou uma necessidade cotidiana, que vai além do Orkut e do famigerado Control C Control V. Isso gerou nele um impulso de compra, que o motivou a se tornar proprietário de um desktop e de uma cara banda larga, que nem sempre funciona como ele gostaria. Mas ainda assim é um acesso. E ter o acesso já o torna membro de um grupo privilegiado, por todos os motivos expostos.

Mas esse acesso será para que fim? Agrega algum tipo de valor educacional às pessoas ou será direcionado apenas a redes sociais e lazer? A tendência é se deixar contaminar por preconceitos e acreditar que esse seja um contato com a rede desqualificado, principalmente com relação às classes D e E. Mas a própria pesquisa contradiz isso. Ela revela que, do total de usuários que possuem acesso à internet, 72% afirmaram que a utilizam para Educação, sendo que esse grupo é composto por 76% de pessoas cuja renda familiar é inferior a R$ 465 e 63% é analfabetos ou está em fase de educação infantil. Ou seja, baixo grau de instrução e de renda não é sinônimo de desinteresse pela educação, pelo contrário. Observamos aqui o crescimento da rede como complemento ao aprendizado formal.

Levando todos os dados expostos em consideração, podemos afirmar com segurança que ter o acesso à rede já é um incentivo para que a maior parte dos usuários de internet se sintam estimulados a buscar um contato com outros tipos de informações que vão além das redes sociais. Muitas vezes a alta presença dos brasileiros em redes sociais como Orkut é vista com preconceito por boa parte dos membros das classes sociais mais altas, apesar de em nada interferir na qualidade desse acesso, já que não é feita exclusivamente com esse fim, como constatado pela pesquisa. E mesmo sem condições de consumo, as classes mais baixas buscam esse acesso. Isso sinaliza não só a importância que a rede está ganhando entre a população brasileira, mas como o cenário desse acesso estará sofrendo mutações significativas nos próximos anos.

3 Responses to “O acesso como um estímulo educacional”

  1. mccarlomagno Says:

    Talvez tenha faltado alguma referencia mais explicita aos conteúdos/referenciais vistos durante o curso, mas o levantamento dos dados foi bem pertinente, assim como sua análise. Acho que não entendi muito bem a parte sobre a necessidade criada pela mídia; talvez pudesse ser um pouco melhor explicada.

  2. ytasinger Says:

    Gosto bastante da abordagem do seu texto. Os dados dessa pesquisa também mostram que a taxa de crescimento do número de domicílios com acesso a Internet é bastante alta. Falta agora nossas escolas e universidades repensarem como fazer uma educação contextualizada com uma sociedade cada vez mais conectada e com formatos mais interessantes de receber informação. As academias discutem muitas formas de relacionar a Tecnologias da Informação à Educação, mas como muitas discussões científicas, pouco dessa ciência é aplicada na prática. Se o interesse pela educação é grande, conteúdos mais preparados para esse público fariam a ligação entre a rede e a sala de aula.


  3. Existe um preconceito muito grande, movido pelo desconhecimento e pelo medo, contra alguns tipos de navegação, basta lembrar das leis que proíbem lan-houses perto de escolas. Este preconceito também é direcionado contra determinados sites, como redes socias. Discordo da ideia que incentiva a inclusão digital voltada apenas para a educação e ao ensino profissionalizante, todos tem o direito de se comunciar e também tem direito ao lazer. Sendo assim, todo tipo de navegação deve ser estimulado sem haver discriminação a um ou outro conteúdo, isso sem contar no imenso potencial, ainda não percebido por todos, educacional nestas novas mídias, um jogo de video game pode proporcionar muito mais conhecimento do que jogos ditos “educacionais” que apenas por este título já são capazes de afastar muitas pessoas.


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